Texto por: Ana Carolina Urbaczek*; Rosimeire Fernandes da Matta**; Rosane de F. Z. Lizarelli***

 

A Laserterapia é uma tecnologia que tem cada vez mais apresentado um crescimento significativo em diversas áreas médicas, para tratamento de inúmeros problemas, e também na área da estética. As propriedades terapêuticas dos LEDs e LASERs de baixa intensidade, aliadas à segurança do tratamento, são os principais responsáveis por esse crescimento (LIZARELLI, 2005; HAMBLIN, 2017; LIZARELLI, 2018).

No campo terapêutico, vários estudos demonstram que a utilização do LASER de baixa intensidade pode acelerar a cicatrização de feridas, e minimizar os prejuízos secundários a sua presença. Os efeitos primários (bioquímicos, bioelétricos e bioenergéticos) do tratamento com LASER de baixa intensidade, atuam a nível celular promovendo aumento do metabolismo, aumento da proliferação, maturação e locomoção de fibroblastos e linfócitos, intensificação da reabsorção de fibrina, aumento da quantidade de tecido de granulação e diminuição da liberação de mediadores inflamatórios, acelerando assim o processo de cicatrização e permitindo que o paciente retorne mais rápido às suas atividades de rotina (BOURGUIGNON-FILHO et al., 2005; DEMIR et al., 2004; ENWEMEKA et al., 2004).

A Parestesia é um distúrbio neuro sensitivo causado por uma lesão no tecido neural que causa distúrbios na sensibilidade nas regiões inervadas pelo nervo afetado. Frequentemente se associam à insensibilidade local um certo grau de dor e desconforto, mas principalmente à sensação de “formigamento”. Geralmente é decorrente de fatores como complicações de cirurgias odontológicas, fraturas, bloqueios anestésicos, lesões, traumas, entre outros (PRADO, 2004; LIZARELLI, 2018).

Recentemente, a Laserterapia vem sendo utilizada em casos de transtornos neurossensoriais, como é a parestesia (LIZARELLI, 2018). A irradiação da região com LASER de baixa intensidade visa a reparação das fibras nervosas periféricas e a restituição da função neuronal, propiciando a recuperação sensitiva. A regeneração nervosa se dá pela proliferação das células de Schwann, células essas que formam a bainha de mielina no sistema nervoso periférico, que correspondem às colunas celulares compactas que servem de guia para os axônios que vão se formar posteriormente. Toda essa regeneração nervosa requer grande quantidade de energia, e o LASER durante a laserterapia estimula as mitocôndrias para essa produção de energia (aumento do metabolismo energético) necessária. Além disso, o LASER de baixa intensidade aumenta a amplitude do potencial de ação das células nervosas acelerando a regeneração destas, estimulando assim a função neurosensorial (PRADO, 2004; MANDELBAUM-LIVNAT et al., 2016).

Assim, o LASER de baixa intensidade atua terapeuticamente nos sistemas biológicos, promovendo analgesia temporária, regulação do processo inflamatório, ou na biomodulação das respostas celulares. Pelo fato de que a aplicação de doses com o comprimento de onda adequado pode-se estimular o metabolismo celular, aumentar a microcirculação local e acelerar a velocidade de cicatrização, restabelecendo-se o equilíbrio fisiológico.

No caso apresentado a seguir, o paciente sofreu um acidente ao cair de uma bicicleta e apresentava dor, edema, hematomas e lesões na pele. Dois dias depois iniciou-se a laserterapia para tratamento das lesões utilizando-se o Aparelho Vênus – MMOptics (São Carlos, SP, Brasil). A sessão foi iniciada irradiando-se os principais linfonodos da face e pescoço (pré-auricular, submentoniano, submandibular, supraclavicular) com LASER infravermelho (808nm) 6J (30 segundos) por grupo de linfonodos. Em seguida, os locais de hematoma e dor foram irradiados com LASER infravermelho (808nm) sob parâmetro de 12J de energia total (60 segundos de tempo de irradiação) por área (8,9cm² – área da ponta acrílica do “cluster” do equipamento Vênus), com exceção dos hematomas da pálpebra superior onde neste local utilizou-se o LED âmbar no “Modo Vital”. Os locais de ferimento foram irradiados com o LASER vermelho (660nm) sob parâmetro de 10J de energia total (50 segundos de tempo de irradiação) por área (8,9cm² – área da ponta acrílica do “cluster” do equipamento Vênus). Além disso, durante a laserterapia local, o paciente recebeu tratamento com a terapia ILIB transcutâneo na artéria radial (ILIB TC AR) do pulso esquerdo por 30 minutos (180J), modo iL1 (Recover, MMOptics).

Na figura 1 observa-se a evolução do tratamento após 3 aplicações com intervalos de 48h. Observa-se que ao final do tratamento, não houve formação de cicatrizes no tecido que havia sido lesionado, sendo esta uma das vantagens da fotobiomodulação da cicatrização.

 

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Figura 1: Evolução do tratamento com laserterapia para recuperação das lesões, edema e dor, após 3 aplicações de LASER e LED.

 

Após a cicatrização das lesões superficiais o paciente passou a referir falta de sensibilidade na metade do lábio superior e logo abaixo do maxilar. Foram então realizadas 2 sessões utilizando-se o aparelho Laser Duo – MMOptics (São Carlos, SP, Brasil) com intervalo de 48h entre cada sessão. Foram irradiadas as ramificações dos nervos infra-orbitário e alveolar superior (figura 2), com LASER infravermelho (808nm), sendo os dois pontos com energia total de 90J (15 minutos parado) cada um, sendo um em contato com a mucosa gengival no local anatômico referente à fossa canina – ramo do nervo alveolar superior, e outro ponto extra-oral – forame infra-orbitário, em contato com a pele.

 

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Figura 2: (A) Região onde o paciente relatava falta de sensibilidade, nos pontos vermelhos havia referência de leve dor. (B) ramos dos nervos possivelmente atingidos com o trauma e correlacionados com a região de desconforto referida pelo paciente. (C) aplicação de LASER infravermelho (808nm) 90J (15 minutos parado) no ramo do nervo infraorbitário. (D) aplicação de LASER infravermelho (808nm) 90J (15 minutos parado) no ramo do nervo alveolar superior.

 

Após a primeira sessão o paciente relatou melhora na sensação dolorosa e recuperação da sensibilidade na região. Após 48h foi realizada a segunda sessão e depois de alguns dias o paciente relatou plena recuperação da sensibilidade.

Desta forma, a Fotobiomodulação com LASER em Baixa Intensidade tem se mostrado uma importante terapia coadjuvante na recuperação de pacientes submetidos a traumas acidentais. Conclui-se assim que a laserterapia é uma alternativa de tratamento eficaz para o tratamento de lesões superficiais da pele / feridas e de casos de distúrbios neurossensitivos / parestesias. O seu mecanismo de ação cicatrizador restaura o tecido cutâneo e a função neural, sendo vantajoso por não ser um método doloroso nem tampouco traumático e minimiza a formação de cicatrizes. A rápida recuperação do paciente comprova que quanto antes for iniciado o tratamento com LASER após o trauma nervoso, melhor torna-se o prognóstico de recuperação da sensibilidade.

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Autoras:

*Ana Carolina Urbaczek – Biomédica Esteta, PhD em Biociências e Biotecnologia Aplicadas à Farmácia pela UNESP, colaboradora do Instituto de Física de São Carlos – IFSC-USP e colaboradora do Instituto de Pesquisa e Ensino em Biofotônica – IPEB.

** Rosimeire Fernandes da Matta – Bióloga e Esteticista, Docente de Biofotônica Capilar e Corporal no IPEB.

*** Rosane de F. Z. Lizarelli – Cirurgiã-Dentista, Pesquisadora na área de Biofotônica desde 1994 pela USP; PhD em Biofotônica pelo IFSC-USP, Sócia-Diretora do IPEB; e, Consultora Científica da MMOptics.

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Referências Bibliográficas:

BOURGUIGNON-FILHO, A. M. et al. Utilização do laser no processo de cicatrização tecidual: revisão de literatura. Revista Portuguesa de Estomatologia e Cirurgia Maxilo-facial, v. 46, n. 1, p. 37-43, 2005.

DEMIR, H.; BALAY, H.; KIRNAP, M. A. Comparative study of the effects of electrical stimulation and laser treatment on experimental ound healing in rats. Journal of Rehabilitation Research and evelopment, v. 41, n. 2, p. 147–54, 2004.

ENWEMEKA, C. S.; PARKER, J. C.; DOWDY, D. S.; HARKNESS, E. E.; SANFORD, L. E.; WOODRUFF, L. D. The eficacy of low-power laser in tissue repair and pain control: a metaánalysis study. Photomed Laser surg, v. 22, n. 4, p. 323-9, 2004.

HAMBLIN, M. R. Mechanisms and applications of the anti-inflammatory effect of photobiomodulation. AIMS Biophys., v. 4. n. 3, p. 337-361, 2017.

LIZARELLI, R. F. Z. Protocolos Clínicos Odontológicos – Uso do laser de baixa intensidade – 2a. Edição. 2. ed. São Carlos: Bons Negócios, 2005. v. 1. 90p.

LIZARELLI, R. F. Z. Reabilitação Biofotônica Orofacial. 1. ed. São Carlos: Compacta, 2018. v. 1. 400p.

MANDELBAUM-LIVNAT, M. M. et al. Photomedicine and Laser Surgery, v. 34, n. 12, p. 638-645, 2016.

PRADO, M. M. B. Estudo sobre a parestesia do nervo alveolar inferior pós-cirurgias de terceiros molares inferiores. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Faculdade de Odontologia de São Paulo, Universidade de São Paulo, 2004. 43p.