Há cerca de 9 anos, uma nova modalidade para o emprego de lasers em baixa intensidade surgiu como uma “febre” para os profissionais da saúde e estética: a terapia ILIB (“Intravascular Laser Irradiation of Blood” – Irradiação do Sangue com Laser). Na mesma época, a WALT (World Association for Laser Therapy) mudou a denominação de Fototerapia para Fotobiomodulação, considerando as fontes de luz em baixa intensidade, lasers e LEDs, como agentes fotônicos moduladores das reações fisiológica.

A tal terapia “ILIB” propunha, então, adaptar o que em 1981 os soviéticos E.N. Meshalkin e V.S. Sergievskiy [1], haviam iniciado com muito sucesso: o controle da fisiologia cardio-vascular, através da entrega da laserterapia vermelha (660nm), por uma fibra óptica nas artérias ou vasos, atravessando a pele e introduzindo dentro do vaso sanguíneo para, ali, depositar a irradiação de um laser com 3 a 5mW de potência durante 20 a 30 minutos. Os pesquisadores perceberam, em 1981, que a área de infarto, as mortes súbitas diminuíram, porque a laserterapia vermelha, provavelmente, havia fotodesligado o óxido nítrico das moléculas de hemoglobina e então induzido, através do GMP cíclico, o relaxamento das paredes dos vasos e melhorado o fluxo sanguíneo e a oximetria dos tecidos. Então, esses pioneiros, repetiram os experimentos com comprimentos de onda no infravermelho e perceberam que também havia uma melhora na resposta imunológica.

Para realizar essa terapia intravascular há necessidade de aparatos especiais, ambiente hospitalar ou ambulatorial, descarte da fibra óptica (uso único) e equipamento específico. Além do custo e de todos os critérios de biossegurança exigidos, o operador deve ser especialmente treinado e precisamos do aceite pelo paciente para ser “perfurado” a cada uma das 3 a 10 sessões que eles propunham, um conjunto de condições que tornavam algo simples em um procedimento complexo, desconfortável e oneroso.

Ocorre que, em 1996, em um dos congressos da WALT, que aconteceu em Israel, Dr. Lyaifer, médico endocrinologista, apresentou um estudo seu, para angiopatia de pés de pacientes diabéticos, onde comparou duas vias de administração para a tal Laserterapia Vascular: intravascular (artéria cúbita mediana – antebraço) e a transcutânea (artéria dorsal – dorso dos pés), sob mesmos parâmetros de irradiação, trazendo os resultados de que ambas as vias promoviam as mesmas respostas sistêmicas desejadas.            

Em 1998, Gasparyan e Makela [2] citaram que essa “Fotohemoterapia” poderia, na verdade, ser realizada por 3 formas diferentes: intravascular, transcutânea e extra-corpórea (quando o sangue do paciente era coletado, irradiado fora do corpo e reinfundido, como Knott [3] havera proposto em 1945 com vários tratamentos bem sucedidos). Mas, Gasparyan e Makela já ressaltavam que, ainda assim, a forma, a via mais interessante, menos onerosa, indolor e tão eficiente quanto as demais era, sem dúvidas, a transcutânea. Uma vez que as camadas tissulares (da pele) permitem a passagem de luz nos espectros vermelho e infravermelho sem grandes perdas de energia, até atingir o tecido-alvo: vasos sanguíneos no tecido conjuntivo. E ainda, eles concluíram que, não apenas lasers poderiam ser utilizados, mas também os sistemas a bases de Diodos Emissores de Luz, os LEDs, nas faixas espectrais do vermelho (de 630-780nm) e infravermelho próximo (de 808-904nm), e também violeta, azul e verde.

Em 1989 e 1991, um grupo de pesquisadores russos [4, 5] iniciaram estudos para rinite e sinusite, onde a laserterapia era aplicada em contato com a mucosa intranasal, e apresentaram melhoras no sistema imunológico, tanto nos experimentos em animais quanto nos tratamentos de pacientes. E em 2014, AILIOAIE et al.[6] apresentaram, pela primeira vez, a laserterapia com efeito sistêmico importante, melhorando a resposta imunológica, quando a irradiação era realizada no assoalho da boca, na região sublingual.

Dessa forma, quando essa idéia foi trazida ao Brasil, a proposta já era clara: aplicação transcutânea, mas, erroneamente, difundiram como Terapia ILIB. Vamos corrigir essa denominação para Fotobiomodulação Sistêmica Vascular, onde fontes de luz, lasers ou LEDs, podem ser utilizadas para depositar energias fotônicas, previamente determinadas, sobre a pele, no local onde vasos sanguíneos calibrosos (artérias ou veias) tenham sua maior projeção em direção a pele, e depois evoluindo para as aplicações transmucosas, onde encontramos grande concentração de vasos sanguíneos, ou seja, na região intranasal e/ou região do assoalho da boca – sublingual.

O primeiro protocolo estabelecido e que foi amplamente utilizado por vários profissionais da saúde foi: Laserterapia vermelha (660nm) com aplicação transcutânea na região da artéria radial (próximo do pulso, lado medial), por 30 minutos. Mas sempre na artéria radial ou poderia ser em outro local? E sempre com laser vermelho ou infravermelho, e quando escolher um ou o outro? E o tempo, 30 minutos é muito, pouco ou o ideal?

Bem, em primeiríssimo lugar, se estamos administrando uma terapia sistêmica, não deveríamos considerar o perfil sistêmico de cada paciente em separado? E reavaliarmos esse paciente a cada sessão? Sim. Isso significa que nem sempre o vermelho será o comprimento de onda mais indicado, nem a via transcutânea sobre a artéria radial, nem mesmo os 30 minutos deve ser fixo. Dessa forma, como poderíamos “montar” os protocolos individualizados? Para tanto, faz-se necessário que um exame bioquímico seja pedido para o paciente, devemos preencher um questionário integrativo, aferir a pressão arterial, aferir a oximetria, entender a qualidade de vida do paciente, sua dieta, suas disfunções metabólicas, seus hormônios, suas enfermidades, e, afinal, o motivo pelo qual poderíamos indicar a Fotobiomodulação Sistêmica Vascular. É fato que a única contra-indicação, até o presente momento, seria Leucemia, devido a falta de estudos científicos que comprovem que sim ou não, então continuamos a contra-indicar. Mas, também é fato que o profissional da saúde quer oferecer o melhor benefício para seus pacientes ao realizar essa terapia sistêmica.

Basicamente, podemos dizer que:
Quanto às vias de administração: lembrando que independente da proposta do tratamento, sempre haverá ganho sistêmico.

– Transcutânea – consideramos indicado as artérias/veias calibrosas mais próximas do tecido-alvo, quando a intenção não
for apenas melhora sistêmica. Sendo assim, poderemos irradiar artérias/veias radiais (Fig. 1),  temporais superiores, médias e posteriores, pré-centrais e centrais (córtex motor), carótidas, faciais, vertebrais, jugulares, supra-claviculares, cubita mediana, safenas, poplíteas, dorsais e tibiais posteriores (Fig. 2); e,
– Transmucosa – intra-nasal (ponta do laser voltada para a linha mediana) e assoalho da boca (sublingual).

Figura 1 – FSV TCAR (Fotobiomodulação Sistêmica Vascular Transcutânea na Artéria Radial (a); FSV TMIN (Fotobiomodulação Sistêmica Vascular Transmucosa Intranasal) (b); e, FSV TMSL (Fotobiomodulação Sistêmica Vascular Transmucosa Sublingual) (c).  (Arquivo pessoal da autora).

Figura 2 – Outros pontos de irradiação propostos por MOSKVIN; KHADARTSEV, 2018.– Quanto ao comprimento de onda: considerando a faixa espectral de absorção da hemoglobina, sabemos que todos os comprimentos de onda de uso terapêutico podem ser absorvidos, sendo eles, violeta, azul, verde, vermelho e infravermelho próximo. Entretanto, os comprimentos de onda violeta, azul e verde ainda estão sendo estudados, por outro lado, comprimentos de onda vermelhos e infravermelhos próximos já demonstram e estabeleceram seus efeitos satisfatórios, sendo eles:

– Vermelho (de 630 a 780nm) – tem efeito espasmolítico, melhora a disposição física, trata a insônia, melhora a oximetria, melhora o metabolismo, gerencia doenças degenerativas, ansiedade, isquemia cerebral, faz controle hormonal, controla os marcadores metabólicos, acelera a cicatrização, entre outros; e,

– Infravermelho próximo (de 780 a 904nm) – indicado para fototipos altos (IV a VI), controla a inflamação, a infecção (melhora na resposta imunológica), hipoxia, analgesia, promove melhoras cognitivas (córtex pré-frontal), e melhoras motoras (córtex motor), trata a depressão, traumas cerebrais, doenças degenerativas, esquizofrenia, controle emocional, crise alérgica, resgata hemoglobina em pacientes com COVID19.

Quanto aos tempos de irradiação: atualmente, dependendo da via de administração da luz:
– podemos dizer que a aplicação transcutânea com um laser de 100mW poderia variar de 6 a 60 minutos na artéria radial;
– 10 a 15 minutos nas carótidas, supra-claviculares e vertebrais; 5 minutos nas artérias temporais; 3 a 10 minutos nas cerebrais e safenas; 20 minutos nos vasos dos membros inferiores;
– a mucosa intranasal podemos irradiar de 1 a 3 minutos em cada narina, na mesma sessão; e,
– a mucosa sublingual podemos irradiar de 2 a 15 minutos.

4 – Quanto a faixa etária: recomendo que na primeira infância, seja empregado 1/3 do tempo indicado para o adulto e na pré-adolescência seja metade dessa dose de adulto.

Então, alguns protocolos já estão estabelecidos, quando utilizamos um laser em forma de caneta, como o Laser Duo ou o Recover, da empresa MMOptics (São Carlos, SP, Brasil). Como estes a seguir:

Fotobiomodulação Sistêmica Vascular (FSV) no gerenciamento da senescência:

  1. Consentimento Livre e Esclarecido preenchido e assinado;
  2. Pedir Exames Bioquímicos e suplementar;
  3. Escolher a melhor via de administração (TCAR ou TMSL ou TMIN);
  4. O tempo de irradiação (dose) deverá ser adequado ao perfil do paciente (de 2 a 30 minutos);
  5. Alternar, a cada sessão, 660nm e 808nm; e,
  6. Pode ser associado às sessões de tratamento odontológico (1 ou 2 X por semana, 30 minutos a cada sessão).

OBS1: Pacientes idosos (acima de 60 anos) e/ou polifármacos deverão iniciar a terapia, e talvez mantê-la assim, com um tempo de irradiação de 2 a 3 minutos (laser com potência de 100mW) na aplicação transmucosa IN (em cada narina) ou mesmo TCAR 10 min, com 2 a 3 sessões semanais no comprimento de onda vermelho (660nm), sempre observando a oximetria e as sensações sistêmicas.

OBS2: TCAR = Transcutânea na Artéria Radial; TMSL = Transmucosa Sublingual; TMIN = Transmucosa Intranasal.

FSV TMSL na Reabilitação do Sistema Estomatognático

  1. Consentimento Livre e Esclarecido preenchido e assinado;
  2. Pedir Exames Bioquímicos e suplementar;
  3. Realizar aplicações sublinguais (SL), de 6 minutos, ao final de cada sessão de reabilitação orofacial;
  4. Quando envolver procedimentos que possam gerar sensibilidade pós-operatória (fotoclareamento dental, raspagem periodontal, sessões longas de preparos para próteses intraorais, por exemplo), o comprimento de onda infravermelho será o mais indicado (de 10 a 15 minutos);
  5. Quando o tratamento necessitar de uma resposta fisiológica melhorada (PO à partir de 72h de cirurgias orais menores ou de “peelings” faciais, por exemplo), então o comprimento de onda vermelho será o mais indicado para auxiliar no aporte nutricional e de oxigênio para facilitar e reparo tecidual (10 minutos – de 1 a 3 sessões a cada 48h); e,
  6. Nas sessões de Fotocinesioterapia (para reabilitação e harmonização orofacial), aplicar 6 minutos com laser vermelho (660nm) TC ou SL, antes da(s) cinesioterapia(s) (eletroterapia para isometria, exercícios e/ou “taping”), e, 6 minutos com laser infravermelho (808nm) TC ou SL, imediatamente após a(s) cinesioterapia(s) executada.

FSV para Doenças Degenerativas

  1. Consentimento Livre e Esclarecido preenchido e assinado;
  2. Pedido de Exames Séricos;
  3. Suplementação;
  4. FSV TCAR – 660nm, por 30 a 60 minutos;
  5. FSV TMIN – 660nm, 90 segundos X 2 em cada narina (18J, 3 minutos);
  6. FSV 660nm transcraniano 18 J (3 minutos): VG20, córtex pré-frontal mediano, artérias temporais anteriores, artérias supra-trocleares e artérias pré-centrais e centrais (córtex-motor);
  7. Aplicar 2 a 3 vezes por semana ou dias alternados;
  8. Avaliar e reavaliar a cada semana (PA, oximetria, questionário de bem-estar); e,
  9. Reavaliar Exames Séricos após 1 mês e após 3 meses.

Não devemos esquecer da Biossegurança. Abaixo pontos importantes a serem considerados:

  1. sempre pedir o consentimento livre e esclarecido, por escrito, para o paciente;
  2. preparar o equipamento de forma a evitar contaminação cruzada;
  3. colocar os óculos de proteção no paciente;
  4. posicionar e fiscalizar o tempo todo, durante a irradiação, se a ponta está no lugar correto;
  5. quando a irradiação for transmucosa, proteger a ponta com filme de PVC;
  6. sempre reavaliar o paciente no início de cada sessão de fotobiomodulação sistêmica vascular e questionar sobre os efeitos promovidos pela última sessão realizada;
  7. em pacientes fototipo alto, NÃO utilizar o comprimento de onda vermelho, apenas o infravermelho e dividir em 3 pontos, equidistantes de 1,0cm, nos arredores do ponto-alvo; e,
  8. sempre perguntar, ANTES de irradiar, se o paciente está tomando ou aplicando, topicamente, algum medicamento fotossensível.

Por ser uma modalidade muito nova, o profissional deverá sempre manter sua atualização, lendo artigos científicos e fazendo cursos, dessa forma irá melhorar sempre seus protocolos e ter o sucesso esperado dessa terapia sistêmica e integrativa.

Referências Bibliográficas

  1. MESHALKIN E., SERGIEWSKY, V.S. Application of Direct Laser Irradiation in Experimental and Clinical Heart Surgery, Novosibirsk: Nauka, 1981.
  2. GASPARYAN, L.; MAKELA, A. Intravenous laser irradiation of blood: current state and future perpectives. Disponível em: <https://www.webermedical.com/fileadmin/pdf/1._Allgemein_Gasparyan-Anu-Makela.pdf>
  3. KNOTT, E. K. Development of ultraviolet blood irradiation. Am. J. Surg., v. 76, n. 1948, p. 165–171, 1948.
  4. TULEBAEV, R. K. et al. Indicators of the activity of the immune system during laser therapy of vasomotor rhinitis. Vestn. Otorinolaringol., v. 1, p. 46–49, 1989.
  5. KRUCHININA, I. et al. Therapeutic effect of helium-neon laser on microcirculation of nasal mucosa in children with acute and chronic maxillary sinusitis as measured by conjunctival biomicroscopy. Vestn. Otorinolaringol., v. 3, p. 26–30, 1991.
  6. AILIOAIE, L. M. et al. Innovations and Challenges by Applying Sublingual Laser Blood Irradiation in Juvenile Idiopathic Arthritis. International Journal of Photoenergy, 2014. DOI:http://dx.doi.org/10.1155/2014/130417
  7. MOSKVIN, S. V.; KHADARTSEV, A. A. Laser blood illumination. The main therapeutic techniques. Moscow: Triada, 2018.

Profa. Dra. Rosane de Fátima Zanirato Lizarelli
PhD e Pesquisadora em Biofotônica – IFSC/USP